O cenário digital tem sido palco de uma discussão que ganha cada vez mais destaque: a remuneração de criadores de conteúdo vinculados a plataformas de apostas esportivas. Recentemente, uma nova proposta apresentada por um deputado federal pretende alterar de forma significativa a tributação sobre esses profissionais. A ideia é simples na estrutura, mas complexa nos impactos: aumentar os impostos cobrados sobre os valores pagos aos influenciadores digitais que promovem apostas online e destinar essa verba arrecadada para o sistema público de saúde.
De acordo com o texto apresentado, a proposta visa elevar a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para 50%, aplicável exclusivamente aos cachês recebidos por influenciadores que fazem publicidade de plataformas de apostas. A justificativa gira em torno da crescente exposição dos jovens a conteúdos que estimulam o jogo online, sem uma regulamentação clara ou proteção eficaz contra os riscos do vício em apostas. Além disso, o argumento central é que os altos ganhos desses criadores devem contribuir mais com setores essenciais da sociedade, como o sistema de saúde.
O debate se intensifica na medida em que especialistas questionam a viabilidade da aplicação desse novo modelo tributário. Há quem defenda que a medida pode servir como um freio para a banalização da publicidade de jogos de azar, especialmente quando associada a rostos populares nas redes sociais. Por outro lado, críticos alegam que a proposta não diferencia criadores que apenas divulgam marcas daqueles que realmente incentivam o consumo irresponsável. Essa distinção é considerada crucial por juristas e profissionais do marketing digital, que veem a proposta como uma generalização perigosa.
Além dos aspectos legais e éticos, a proposta levanta reflexões econômicas. O mercado de apostas online movimenta bilhões anualmente, e grande parte dessa visibilidade é garantida pela atuação de influenciadores digitais. A proposta sugere uma redistribuição dessa riqueza, visando amenizar carências históricas da saúde pública. Contudo, há dúvidas sobre a eficácia dessa alocação de recursos, considerando as dificuldades estruturais e de gestão enfrentadas pelo setor em todo o país.
Outro ponto que tem sido amplamente discutido é o impacto que essa mudança pode causar na liberdade de atuação dos criadores de conteúdo. Muitos deles veem a proposta como uma forma de censura indireta, ao penalizar financeiramente a associação com marcas específicas. A liberdade de expressão comercial, ainda que sob regulamentações, é um direito previsto e defendido por diversas entidades representativas da categoria. Esse impasse jurídico pode gerar uma batalha nos tribunais, caso o projeto avance.
Não se pode ignorar, no entanto, a crescente pressão popular por maior responsabilidade social por parte de personalidades digitais. A relação entre influência e comportamento do público é cada vez mais clara, o que reforça a importância de uma atuação ética e consciente nas redes sociais. O projeto, mesmo controverso, acende um alerta sobre a urgência de se estabelecer limites e diretrizes mais firmes nesse tipo de publicidade, que muitas vezes escapa dos padrões tradicionais de regulação.
É importante considerar também a perspectiva dos consumidores e seguidores desses influenciadores. Muitos jovens e adolescentes consomem conteúdo relacionado a apostas como parte de seu cotidiano digital, muitas vezes sem compreender os riscos envolvidos. A proposta abre espaço para a construção de campanhas educativas financiadas com os recursos arrecadados, o que pode representar um avanço significativo na prevenção ao vício e na promoção de práticas mais responsáveis online.
Embora a proposta ainda esteja em fase de discussão, ela já tem provocado efeitos importantes no debate público e nas estratégias adotadas por influenciadores e marcas. A tendência é que novos projetos de lei surjam com foco na regulação do ambiente digital, especialmente em setores que envolvem dinheiro fácil e riscos à saúde mental. A conexão entre arrecadação fiscal e investimento social pode, se bem implementada, se tornar um exemplo de como o Estado pode intervir de forma equilibrada em realidades digitais ainda pouco exploradas pela legislação atual.
Autor : Dianne Avery