Casos de infertilidade sem causa aparente têm desafiado especialistas e pacientes há décadas. Oluwatosin Tolulope Ajidahun comenta que, entre os fatores menos evidentes, a resposta imunológica inadequada do corpo pode ser a chave para compreender falhas de implantação, abortamentos recorrentes e dificuldades na gestação. A infertilidade imunológica é uma área complexa e ainda em expansão na medicina reprodutiva, mas já oferece importantes pistas para diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados.
O sistema imunológico, cuja função principal é proteger o organismo contra ameaças externas, pode, em algumas situações, identificar o embrião como um “agente estranho”. Quando isso ocorre, há ativação de células e mediadores inflamatórios que podem impedir a implantação ou causar rejeição precoce do embrião. Ainda que silenciosos, esses mecanismos afetam a receptividade uterina e a manutenção da gravidez.
Mecanismos imunológicos associados à infertilidade
As principais alterações imunológicas relacionadas à infertilidade envolvem o desequilíbrio entre células de defesa pró-inflamatórias e reguladoras, a presença de autoanticorpos e a ativação de células naturais killer (NK) no útero. Quando em excesso, essas células podem atacar o tecido embrionário, dificultando a sua fixação no endométrio.
Segundo Oluwatosin Tolulope Ajidahun, o organismo precisa de um ambiente imunologicamente tolerante para que o embrião seja reconhecido como parte da mãe e, ao mesmo tempo, geneticamente distinto. A falha nessa tolerância imunológica pode gerar reações incompatíveis com a gestação. Casos de trombofilias, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome antifosfolípide e tiroidites autoimunes são exemplos de condições que devem ser avaliadas em pacientes com histórico de perda gestacional ou falhas recorrentes em FIV.
Outros fatores, como infecções uterinas subclínicas e inflamações silenciosas, também podem alterar a resposta imunológica local e interferir na fertilização e implantação.
Diagnóstico e investigação personalizada
A investigação da infertilidade imunológica exige exames específicos, como a dosagem de autoanticorpos (anticardiolipina, anticoagulante lúpico, antinucleares), perfil de células NK e avaliação de citocinas. Em centros especializados, pode-se realizar a biópsia endometrial para análise imuno-histoquímica, que permite identificar desequilíbrios na expressão de marcadores imunológicos.

Tosyn Lopes aponta que esses exames não são de rotina, mas são altamente indicados em casos de repetidas falhas de implantação embrionária, abortos de repetição ou histórico familiar de doenças autoimunes. O diagnóstico precoce é essencial para definir estratégias terapêuticas eficazes e aumentar as chances de uma gestação saudável.
Ademais, testes genéticos para avaliação de compatibilidade HLA entre os parceiros e estudos sobre a microbiota uterina podem complementar o diagnóstico e orientar condutas mais individualizadas.
Tratamento e modulação do sistema imunológico
A abordagem terapêutica da infertilidade imunológica pode incluir o uso de corticoides, imunoglobulina intravenosa (IVIG), anticoagulantes, aspirina em baixa dose e, em casos selecionados, imunomoduladores mais avançados. O objetivo é reduzir a atividade inflamatória excessiva e promover um ambiente uterino mais receptivo ao embrião.
De acordo com Tosyn Lopes, cada protocolo deve ser ajustado conforme o perfil imunológico da paciente, evitando intervenções desnecessárias e priorizando a segurança materno-fetal. O suporte da fase lútea também pode ser reforçado com progesterona, dada sua ação imunomoduladora natural.
A adoção de hábitos anti-inflamatórios, como alimentação equilibrada, redução do estresse e controle de doenças crônicas, também é parte fundamental do manejo. Essas medidas favorecem o equilíbrio do sistema imune e contribuem para a criação de um ambiente reprodutivo mais favorável.
Infertilidade imunológica: um campo em evolução
Embora a infertilidade imunológica ainda gere debates na literatura científica, os avanços tecnológicos e os estudos clínicos recentes têm ampliado as possibilidades diagnósticas e terapêuticas. O reconhecimento de que o sistema imune pode ser um obstáculo invisível à concepção abre caminho para estratégias mais amplas e humanas no cuidado com quem deseja engravidar.
Oluwatosin Tolulope Ajidahun frisa que olhar para a fertilidade com uma perspectiva imunológica exige sensibilidade clínica e atualização constante. Em muitos casos, é justamente nesse campo menos explorado que reside a resposta para tornar a gravidez possível, com ciência, cautela e personalização do cuidado.
Autor: Dianne Avery
As imagens divulgadas neste post foram fornecidas por Oluwatosin Tolulope Ajidahun, sendo este responsável legal pela autorização de uso da imagem de todas as pessoas nelas retratadas.