Rodrigo Balassiano, especialista em fundos estruturados e referência em governança e compliance no mercado financeiro, destaca que a precificação de ativos é uma das etapas mais sensíveis e estratégicas na administração de fundos como FIDCs, FIPs e FIIs. Em estruturas onde os ativos não são negociados em mercados líquidos, a definição de seu valor justo impacta diretamente a rentabilidade, a avaliação da carteira, o comportamento das cotas e a própria confiança dos investidores.
A correta precificação é também uma exigência regulatória, especialmente após a entrada em vigor da ICVM 175, que reforça a necessidade de critérios técnicos, rastreabilidade e consistência nos métodos utilizados. Para os fundos estruturados, que lidam frequentemente com recebíveis, participações em empresas ou ativos imobiliários, esse processo exige técnica, governança e constante atualização.
Rodrigo Balassiano e a importância da precificação para fundos estruturados
Segundo Rodrigo Balassiano, a precificação adequada dos ativos é um elemento-chave na gestão de fundos estruturados porque interfere diretamente na transparência e na equidade entre os cotistas. Uma valorização superestimada ou subestimada pode provocar distorções na distribuição de rendimentos, nos preços de entrada e saída de investidores e na percepção de risco do fundo.
Além disso, a precificação mal feita pode comprometer a credibilidade do fundo, atrair sanções regulatórias e gerar litígios entre os participantes. Por isso, fundos bem estruturados adotam políticas claras, com validação periódica dos métodos de avaliação e respaldo técnico.
Métodos de precificação mais utilizados
Os fundos estruturados utilizam uma combinação de métodos de precificação, dependendo da natureza do ativo, da liquidez, do risco e da disponibilidade de informações de mercado. Os principais métodos incluem:
1. Valor de mercado (mark-to-market)
Aplicado a ativos líquidos e negociados regularmente, como títulos públicos ou ações. Utiliza preços de fechamento de mercado para reavaliar os ativos diariamente. Quando possível, é o método preferido por garantir objetividade e transparência.
2. Valor presente líquido (VPL)
Utilizado para precificar recebíveis ou contratos com fluxo de caixa futuro previsível. Os pagamentos esperados são descontados a uma taxa que reflete o risco do ativo. Rodrigo Balassiano ressalta que a escolha da taxa de desconto é crítica — ela deve considerar o risco de inadimplência, o prazo e as condições de mercado.
3. Avaliação por múltiplos ou comparáveis
Comum em FIPs, que investem em participações societárias. Utiliza múltiplos de empresas semelhantes (como EBITDA ou receita) para estimar o valor da empresa investida. É um método sujeito a maior subjetividade e requer atualização constante dos parâmetros de mercado.
4. Avaliação por fluxo de caixa descontado (DCF)
Utilizado para ativos complexos ou sem mercado secundário. O gestor projeta fluxos de caixa futuros e os traz a valor presente com base em premissas de crescimento, risco e liquidez. É uma abordagem técnica, mas que exige revisões periódicas.

5. Valor de liquidação ou valor residual
Aplicado quando o ativo está deteriorado ou inadimplente. O valor estimado é aquele que o fundo pode recuperar em caso de execução de garantias ou encerramento da operação. Esse método é conservador, mas necessário para refletir perdas reais.
Governança e políticas de precificação
Conforme explica Rodrigo Balassiano, a ICVM 175 exige que todos os fundos tenham política formal de precificação, aprovada pelo administrador e disponível para os cotistas. Essa política deve definir:
- Os métodos adotados para cada tipo de ativo;
- A periodicidade de avaliação;
- As premissas utilizadas e sua fonte;
- O procedimento em caso de ausência de preços de mercado;
- O papel de comitês de investimento ou consultores externos.
A norma também exige segregação entre gestão e precificação, especialmente em ativos que não possuem mercado líquido. Isso evita conflitos de interesse e garante a imparcialidade na avaliação dos ativos.
A importância da revisão periódica e da validação externa
Além da precificação rotineira, os fundos estruturados devem realizar revisões periódicas de seus critérios de avaliação, especialmente quando há mudanças no perfil de risco, inadimplência ou cenário macroeconômico. A contratação de consultorias independentes ou avaliadores especializados também é recomendada para ativos complexos, como imóveis, participações ou carteiras de crédito pulverizadas.
Rodrigo Balassiano reforça que a validação externa dos modelos contribui para a credibilidade do fundo, reforça a governança e reduz a possibilidade de contestação por parte dos investidores ou da regulação.
Riscos de uma precificação inadequada
Os riscos associados à precificação inadequada são diversos e relevantes. Entre os principais estão:
- Superavaliação da cota: pode atrair novos cotistas sob premissas equivocadas, gerando desequilíbrio quando a realidade for ajustada;
- Subavaliação dos ativos: prejudica cotistas que pretendem resgatar suas cotas ou impacta negativamente a percepção de performance;
- Riscos legais e reputacionais: gestoras que falham na precificação podem ser questionadas judicialmente e sofrer sanções da CVM;
- Perda de confiança: fundos que não apresentam consistência nas metodologias comprometem sua base de cotistas e sua capacidade de captação.
Conclusão
A precificação de ativos em fundos estruturados é um processo técnico, contínuo e central para a boa gestão, a transparência e a confiança dos investidores. Ao aplicar metodologias consistentes, validar premissas e respeitar padrões de governança, o gestor assegura que as cotas reflitam, de forma justa, o valor real da carteira.
A análise de Rodrigo Balassiano mostra que a precificação é mais do que uma tarefa contábil: é um pilar estratégico de comunicação com o mercado, base para decisões de investimento e mecanismo de proteção do patrimônio dos cotistas. Em tempos de maior regulação e exigência por parte dos investidores, fundos que priorizam a qualidade e a integridade na precificação saem na frente.
Autor: Dianne Avery